sábado, 7 de julho de 2012

Diferenças e semelhanças entre um Partido Revolucionário e uma Religião

         Segundo Sigmund Freud todos nós pagamos um preço para garantir nossa entrada na civilização, e esta entrada é forma para nos reconhecermos enquanto organismo humano, vivo, existente, consciente. O preço por entrarmos neste mundo caótico não é barato: angústia, sofrimento, desamparo. Como nos proteger diante destas ameaças? O advento destes sentimentos em nossos corpos são vivenciados por nós como uma voz que quase nos puxa para fora da civilização, que a faz parecer ineficiente, despreparada.
       
          Diante disso temos duas opções principais de escolhas radicais. "Radical" ao que me refiro aqui é qualquer escolha, como na gênese da palavra, que se refira à um enraizamento(raiz) de objetivos e ações, criando-se então uma teoria de prática, estudo e ação. A sociedade pós-moderna nos fornece uma gama de possibilidades de não nos radicalizarmos, de tentarmos nos manter em pé em um ambiente fluido. Atualmente pagamos o preço de a todo momento poder ser "deixado para trás" de nos tornarmos "atrasados". Para que este sentimento não ocorra e não mergulhemos em desamparo, não podemos ficar parados, temos que nos renovar e atualizar o tempo todo. Caso algo dê errado(angústia/desamparo/sofrimento) temos objetos de consumos prontos para aplacar a angústia momentaneamente. E mais, para não criarmos vínculos afetivos que levem à "radicalismos", nos prevenimos também usando pessoas dentro da lógica de objetos de consumo.

          Temos então aqui três perspectivas básicas: Religião, Partido, Sociedades de Consumo. Neste texto irei abordar apenas as perspectivas "Religião" e "Partido", porém é dificílimo falar destas duas sem fazer ligações com este terceiro, atual saída prioritária da maioria do mundo ocidental. Começarei falando da Religião. Nela temos a oportunidade de viver um "sentimento oceânico", onde nele nos sentimos integrados à um "todo", que aqui chamarei de "Deus". Este todo faz nos sentirmos fortes, unidos, presentes, ativos e acima de tudo, vivos. Os cultos religiosos vem aí para reforçar a importância deste sentimento na vida das pessoas e como ele trás vitórias, milagres, sucessos e conquistas. Não podemos negar que muitos méritos conquistados por membros de grupos religiosos são atribuídos às suas conquistas com o "sentimento oceânico", que os dá a possibilidade de continuar lutando sem cair em desamparo. Devemos o mérito à religião pelo andamento da vida de milhões de pessoas. A religião então, visando aplacar o desamparo e a angústia, utiliza as Sociedades de Consumo para garantir o "sentimento oceânico" e a vitória individual. A prática de ações concretas religiosas nas Sociedades de Consumo vão da doutrinação, onde levam a possibilidade de sentir o sentimento oceânico, à caridade ao próximo desamparado. Caridade que hoje em dia, torna-se cada vez mais um luxo dos que alcançaram o "sucesso". Com isso vemos um sistema de eterna retroalimentação ideológica, onde as ações levadas em vida apontam para o único caminho: vida divina. Não entrarei em aspectos da vida divina até porque não tenho domínio sobre o assunto, mas os senhores devem entender sobre o que estou falando.

          Comumente vejo algumas semelhanças entre essa denominação religiosa que expus e  um Partido Comunista revolucionário. Um Partido Comunista revolucionário faz do mundo um campo de prática para a mudança social, para a criação de uma sociedade sem exploração do homem pelo homem. E como fazer isso? Além de conseguir atingir um objetivo também é importante pensarmos como o homem irá se relacionar entre ele, afinal, a exploração é um modo de interação e algo deve entrar nesse lugar. O Partido propõe a teoria de Marx e Engels com a "dialética". A dialética é uma proposta interacional onde o embate de idéias leva a criação de um novo significado, este que é concreto e leva à transformações práticas no mundo. A angústia, o desamparo e o sofrimento para um Partido não é algo que deve ser solucionado, mas algo que deve servir como propulsor à democracia, à participação popular nos processos que envolvem uma civilização. Uma civilização produz, uma civilização consome, e uma civilização se relaciona entre seus habitantes. A Religião detém de documentos bíblicos que exemplificam e esclarecem alguns pontos sobre a "vida divina" e a "vida terrena", já o Partido não detém deste tipo de documento, então, não que o Partido ignore a vida divina, mas simplesmente escolhe trabalhar o "preço pago para entrarmos na civilização" de outra maneira; na prática, na dialética, na participação política de todos os cidadãos. Para o Partido, então, a Religião é uma forma de aplacar a angústia de se viver em uma civilização, entregando às classes dominantes o controle de toda vida social/política, claro, a preço da exploração do homem pelo homem.

         Para chegarmos à uma sociedade onde a dialética possa servir como base das relações humanas, não a ideologia e o entreguismo diante dos problemas civilizatórios, teremos que trabalhar com os pés no chão onde vivemos, que é a Sociedade de Consumo. Não iremos ser perfeitos como os Deuses, tão pouco iremos nos deixar morrer na cruz para sermos idolatrados e seguidos em seguida. O Partido é a possibilidade prática de mudança social, da emancipação humana e da construção da civilização pela maioria. O Partido, dentro de nossa Sociedade de Consumo, é a única oportunidade prática em ação organizada para a construção de um novo tipo de sociedade, entre erros e acertos, entre amparos e desamparos.