terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Violência na Providência Divina


"Violência" é qualquer forma de ação destinada a algum tipo de mudança. Atualmente vivemos governados por uma forma de Estado(nação) que se afirma democrático, onde a violência é aplicada para termos a garantia, em democracia, de fazermos o que nos é de bem entender.

Tal contradição, que não se pode negar ser uma contradição, gera uma remediável culpa com o fortalecimento de um superego cada vez mais rigoroso. Este superego nos cobra de maneira incessante uma busca por liberdade e prazer, mas quanto mais tentamos buscar, mais ficamos submetidos à ele(superego), tendo assim uma expansão de sua atuação culpabilizadora sobre o consciente.

O remédio para esta culpa é a providência divina. Esvai-se a responsabilidade da mudança e da violência estatal ou revolucionária das mãos do homem, e se incute a responsabilidade em Deus. Deus então é a transformação desse superego malvado em uma entidade boa, paciente, zelosa por todos os homens e que usa da violência na hora certa, sem as consequências, paradoxalmente irremediáveis, da ação humana revolucionária e da mudança social.

Deus é o antídoto da revolução.


Uma breve causa da favelização


Com o passar do tempo vamos vendo o crescimento cada vez maior em número de pessoas que moram em submoradias, "sub" pois não podem ser consideradas moradiais locais onde fica comprometido a própria manutenção e reprodução da vida humana. Falta de saneamento básico, coleta de lixo deficiente, cômodos divididos por inúmeras pessoas. Mas não é contraditório? O avanço da razão, da ciência e das sociedades ao invés de trazer desenvolvimento e conforto para a população está trazendo o avesso para grande parte, a favelização.

"Em vez de cidades de ferro e vidro, sonhadas pelos arquitetos, o mundo está, na verdade, sendo dominado por favelas." Ermina Maricato

Segundo o Banco Mundial na década de 1990 a pobreza se tornaria no próximo século "o problema mais importante e politicamente explosivo do próximo século"[1]. No Brasil, 30% da população brasileira atualmente vive em favelas. Em algúns países o índice de favelização chega a ficar por volta de 90% como Afeganistão e Nigéria. Em países desenvolvidos como EUA e países nórdicos este índice cai para 6%[2].

Nestes dados é importante ressaltar a que custas os países desenvolvidos conseguiram seus baixos índices de favelização. Ao longo do século XX e dos períodos pós guerras, a economia estadunidense teve grande possibilidade de prosseguir com seu avanço na acumulação de capitais na reconstrução européia. Aliado à maquinaria militar de produção com guerras constantes, e ao reposicionamento de suas principais industrias empregadoras de mão de obra barata em países da Ásia, europa oriental e China, criou-se nos EUA uma terra onde os mais próximos do topo do comando empresarial moderno pode administrar suas políticas imperialistas[3]. Nos países nórdicos a indústria exploratória de mão de obra exerce a mesma função.

Países e governos de países asiáticos querendo alavancar suas economias(e contraditoriamente até para combater as favelas) recentemente vem empregando poíticas de incentivos fiscais para implatações de empresas estrangeiras. Porém com o alto índice de exploração permitida pela ausência de organização e direito trabalhista, repressão às organizações de trabalhadores e a aliança entre governo e grandes multinacionais, vem-se dando uma festa, uma verdadeira orgia, onde o grande banquete de capital e de mulheres dos próprios trabalhadores que não conseguem vender sua mão de obra, são consumidos pela elite dominante empresarial. O verdadeiro constraste se coloca: Alguns que não produzem a riqueza, mas que gozam dela, vivem em condomínios fechados e protegidos por vigilantes armados e câmeras de segurança. Estes conseguem ter acesso aos altos níveis de desenvolvimento humano e conforto. Para eles o caos urbano é apenas um jogo de investimentos onde o importante é o lucro. Já para a maioria o que resta é viver em submoradias e trabalhar arduamente, pois a única coisa que resta é a venda de sua própria força de trabalho. Uma força de trabalho desqualificada na maioria das vezes ou qualificada em nosso modelo de educação atual, onde todo conhecimento é gerado apenas para se fazer intensificar as diferenças sociais. Estudantes de Arquitetura estudam a construção de super Shoppings Centers de luxo enquanto a maioria da população não encontra solução para o problema da moradia. Estudantes de Nutrição estudam a pigmentação do vinho, enquanto mal-nutridas, crianças em todo o mundo vivem não se sabe como passando longos períodos de fome e sofrimento.

A favelização é consequência não só de "políticas governamentais erradas", mas é consequência, principalmente, dos grandes monopólios empresariais que espalham a miséria por onde implantam suas fábricas e geram riqueza para uma elite que mora em países "desenvolvidos" - se é que isso pode ser considerado desenvolvimento -. Os verdadeiros vagabundos, bandidos e traficantes na verdade moram em mansões protegidas dos "vagabundos, bandidos e traficantes" criados pelo próprio sistema que difundem - que também geram a si próprios da "hight society" -. Ao final desta generalização da degradação humana, as contradições afetam os dois lados(empresariado e trabalhadores) e a solução do problema da moradia não poderá ser dada enquanto não se haver superado a ordem econômica vigente e libertado ambos os lados - escolhendo-se um lado desta luta de classes -.




[1] Anqing Shi, "How Acess to Urban Portable Water and Sewerage Connections Affects Child Mortality", Finance, Development Research Group. jn.2000 p.14.
[2] Estudos de 2003 do UN-Habitat
[3] Imperialismo é uma forma de expansão empresarial onde empresários ao ver o mercado interno de seu próprio país saturado, ou vendo possibilidades econômicas no exterior, expandem e procuram novos mercados consumidores em outras localidades. Incentivados por políticas estatais e pela precarização de mão de obra dos países asiáticos, empresas principalmente estadunidenses aproveitam para fabricar a menor preço e expandir suas taxas de lucro e acumulação de capital nas mãos de poucos.

A família como degenerescência da emancipação humana


Este tema é um tanto delicado, principalmente pois quando falamos em "Família" em uma lista de prioridades que as pessoas comum têm em suas vidas, a maioria colocaria esta instituição no cume desta lista. Arrisco-me a dizer inclusive que "Família" ocupa na maioria das vezes o topo desta lista/ordem de prioridades de um ser humano. De cara encaramos um grupo que funda a inserção do ser humano no seu meio, que é o meio social, da linguagem. Desde os primeiros dias de vida o ser humano, que virá a ser um sujeito, mas que se coloca inicialmente como uma massa gelatinosa, este ser é um membro de uma família. Presente ou não, há uma bagagem histórica familiar e esta bagagem é a primeira que se coloca diante deste novo candidato à sujeito humano.

Existir como sujeito é diferente de existir como indivíduo ou como ser humano. O indivíduo, como ser indiviso, é a menor parte de uma gama de relações sociais onde a maior parte é a sociedade, por isso o nome "indivíduo", ou seja, o que não se pode dividir. O ser humano existe enquanto conceito e enquanto idéia. Ao nascer, é sugerida uma história e incutido neste novo ser humano uma história, um desejo de quem o concebeu. A existência como sujeito, aí, é a mais complexa de todas. O sujeito se coloca apenas quando esse ser humano concebido, desejado e planejado, passa a conceber, desejar e planejar. Existir como sujeito então é se colocar de maneira ativa nas mais variadas esferas das relações humanas, da menor, no campo do indivíduo, à maior, no campo social.

A família, como instituição formadora de seres humanos, coloca-se ao lado de inúmeros instituições como igreja, escola e exército. Porém, nenhuma destas instituições formam sujeitos. Os sujeitos se formam por um vínculo entre o ser humano instâncias sociais, ou seja, espaços de experiência huamana. Dentro destas instâncias circulam desejos e demandas das mais diversas. Ressaltarei uma força desejante muito presente atualmente como exemplo: a mídia, a indústria cultural. Essa instância social coloca seu aparato em favor de fazer do ser humano um ser sem sujeito, um ser submisso aos dizeres da tendência, da produção capitalista e do consumismo endêmico. Para a indústria cultural e o anunciante da grande imprensa, não interessa se o sujeito deseja isto ou aquilo, mas interessa como fazer despertar e criar o desejo para aquele produto. Logo não há possibilidade de interação, mas uma busca contínua da indústria cultural em criar novos nichos de mercado para seus produtos. E como age a família? Simples. A família é instituída como um conjunto de relações onde a geração passada deseja algo para a relação futura. Até aí tudo bem. Mas como garantir que este desejo familiar não seja um imposição assim como a própria industria cultural dos grandes filmes, propagandas e chamadas consumistas? Nisso não há garantia alguma. Ao contrário, há disgarantias.

Nos dias de hoje a família detém do poder da propriedade privada, ou melhor dizendo, do poder de escolha e de controle sob as instâncais educacionais de uma criança. Vocês iriam rebater esta minha afirmação dizendo que o ensino escolar é obrigatório nas grandes cidades, e sim, é verdade. Mas esta concessão não limita ao todo nem chega perto do que poderiamos imaginar como uma educação voltada para a emancipação. A propriedade privada garante que a família vai ser a responsável pela alimentação, moradia, educação e criação deste novo ser humano social. Não é por menos que por vezes, muitas vezes, culpamos a família pela "malcriação" de uma criança ou por respostas rudes e posicionamentos antiéticos na vida adulta. A família detém da maior parte da responsabilidade da criação deste ser humano.

Vejamos, se conseguistes me acompanhar até aqui, concluiremos que conseguir desenvolver a dinâmica do SUJEITO, ou seja, um ser humano desejante e ativo nas instâncias sociais, é muito difícil. É como se nossa televisão tivesse apenas um canal. Não é apenas pela falta de diversidade, isto é o menos importante, mas sim por estarmos a priori e até nossa "independência", lidando com forças de pessoas que na maior parte de nossas vidas tem grande influência sobre nossa subjetividade. Uma educação completa tem de colocar o ser humano em contato e em responsabilidade coletiva de criação. Sabemos que nossas famílias sofrem influências do contexto social, sabemos que nossas famílias sofrem influências da economia, sabemos que nossas famílias sofrem as mais diversas influências, mas mesmo assim ainda agregamos a responsabilidade maior pela criação de uma criança nas mãos dessa instituição chamada "Família". E mais, quando somos pais, fazemos de nossos filhos  propriedade exclusiva de criação no mesmo modelo em que tivemos a nossa própria criação. Essa reprodução não coloca em crítica o modelo que impede o embate dos desejos de um sujeito com diferentes intâncias sociais, mas apenas a reproduz, que quando muito criticamente, cria algo paradoxal e desamparador. Algo como: "Eu critico a extrema responsabilização e propriedade da família com as crianças, então, farei o inverso com meu filho.". Este "farei" já instala o desejo exclusivo. E digo novamente: até aí tudo bem. O problema é que o controle da família burguesa sobre a criação das crianças, quando este é esvaziado, não há outros espaços de ocupação para estas mesmas crianças. Então a criança é jogada num mundo de desamparo, onde a saída da principal instituição(Família) a insere num colapso social onde a falta de outras instâncias instala uma angústia inimaginável. Colocado como o "sujeito da pós-modernidade", este agora se agarra a qualquer coisa que parece minimamente sólido, como as grandes religiões extremistas, a dependência química ou os grandes mercados financeiros e o fetichismo pela mercadoria.

A saída para a família é dada pela própria família, que não prepara as bases sociais para uma criação inclusive, ampla e diversa de nossas crianças. Isso instala o desamparo e uma busca por vivências alternativas que o levem ao amparo. A família se desestrutura com boas intenções na pós-modernidade, mas não conseguirá fundar nem mudar a sociedade, mas apenas a reproduzir de forma diferenciada. Agora, com a família tendo a possibilidade de se mostrar ausente no sentido mais fraterno possível, o mercado entra com novas alternativas: drogas, remédios, religiões, dinheiro. E será que esta nova alternativa de ausência não pode ser mais um retorno ou tentativa de se estabelecer um novo controle? Esta é uma discussão que ficará mais adiante.


Juventude na pós-modernidade


Pós-modernidade é o esquema de vivência, circuito de formas de relação, status social momentâneo dos tempos em que vivemos. Na contemporaneidade há muito se debatido sobre uma nova maneira de chamar os tempos atuais, encarados já como a ultrapassagem da "modernidade". A modernidade pode ser caracterizada pela cultura monetária, divisão do trabalho, objetivação das relações e subjetivação como criação de uma individualidade, do ser "indiviso", "indivíduo". A modernidade possibilitou pela cultura monetária a possibilidade de ultrapassarmos a simples troca de produtos de valor intercambiável pela livre escolha de compra e venda. O dinheiro então, trouxe o conceito de individualidade, de subjetividade e, propriamente, de liberdade. O ser moderno então, principalmente o morador da cidade, do grande centro urbano, detém em suas mãos o instrumento que o liberta e ao mesmo tempo o aprisiona, visto que tudo e todos agora são quantitativizados, ou seja, tudo pode ser comprado e todos os produtos e relações passaram a ter valor financeiro, logo, comparáveis. O dinheiro passa a ser um fim, não mais um meio, e a cidade com seus milhões de habitantes invade nossa individualidade de maneira tão agressiva que seus habitantes passam a desenvolver defesas, como a própria "atitude blasé" e o cinismo para os outros cidadãos.

Este caráter da modernidade é visto na própria "pós-modernidade". Não é por menos que um novo nome não foi eleito, apenas uma junção com "pós". E muita coisa pode ser vista. Porém em tempos contemporâneos, esta unidade criada pela economia monetária e a livre possibilidade de escolha a partir do poder financeiro torna-se cada vez mais esfacelado, dividido, cindido. As agressões da cidade começam a marcar nossa subjetividade de modo que perdemos nosso sentimento até mesmo de liberdade, visto que há agora tantos opções que fica difícil até escolhermos. Os mais variados produtos, para as mais variadas rendas, as mais variadas ideologias para os mais variados gostos políticos. A liberdade de escolha então dorme em um berço da ausência de conflito, pois como há tantas opções, não há necessidade de eu entrar em embates individuais a cerca de determinado objetivo. O jovem pós moderno então não tem mais uma estrutura de vida sólida, não detém de um emprego que o fará viver tranquilamente e planejadamente pelo resto da vida, não acredita mais em ideologia futura. Tudo é muito incerto, tudo pode mudar de hoje para amanhã. A pós modernidade alimenta um sentimento de sempre estar "á deriva". É como se todos habitássemos um trem e o que mais tememos e sermos jogados para fora dele em movimento, este que é muito rápido para podermos explicar com clareza seu movimento. Nosso único desejo então é não cair do trém, é simplesmente se manter em movimento.

Uso a palavra "nosso" porque acredito que não há forma de passar pela "pós modernidade" sem estar marcado por ela. Basta ler qualquer livro ou artigo que aborda a contemporaneidade que vamos nos identificar com grandes questões. Logo, este período que vivemos não deve ser interpretado como um período a ser combatido, mas um período a ser aproveitado. Cada processo histórico marca a subjetividade e o entendimento da história do ser humano de uma maneira diferente do anterior, isso é natural. Não há movimento contrário ao processo, apenas um ciclo que se renova, se transforma e se molda. Há de se tomar cuidado para não confundir luta de classes com luta de tempos. É perfeitamente possível haver luta de classes nas mais variadas épocas, afinal a própria história é uma história de luta de classes. Mas não é possível combater épocas com objetivo de fortalecer lutas de classes.

Vemos que o caráter multitarefa e muitfuncional do jovem contemporâneo o afasta das lutas políticas. Ninguém quer cair desse trem, isso seria ameaçador demais: ficar sem emprego, sem moradia, sem desenvolvimento intelectual, sem família. As condições estão dadas para uma vida habituada a se manter o que se têm. A questão não mais é o que se terá no futuro, mas como construir o presente para o futuro se concretizar. Foi feito um corte na linha do tempo e o presente está cada vez mais espaçado, espremendo futuro e passado. E essa escolha presente mesmo assim não é segura, tirando para os seletos habitantes das aldeias e condomínios da elite que conseguem se deslocar facilmente por este terreno incerto, vantagem dada pelo domínio e controle da economia monetária - vantagem de poucos - . Os que não detém destes privilégios tentam conseguí-los, são vitimas e agentes de uma própria época. A consciência estética, avaliativa e crítica do momento atual é trocada por uma redenção, esperança de salvação colocada no jovem pela mesma economia monetária que, ao contrário da época moderna, o restringe a liberdade no momento em que cria nele o sentimento de estar "á deriva". Uma rosa pode parecer bela, um buquê mais ainda, um mar de rosas já se torna confuso à visão, e muito assustador. Talvez estejamos vivendo um mar de rosas, para todas as classes. O jovem pós-moderno se insere na economia monetária por sua própria libertação, por mais que esta implique em fazer parte de um grupo onde poucos terão acesso. Mas quando não há opção, quando não há alternativa, este multifacetamento da personalidade não o guia para construção de um novo projeto de sociedade, mas para a corroboração e a participação dos ciclos dominantes que o salvariam da barbárie. É como conseguir a "carta de nobreza". Fazer parte da elite global é ser o nobre dos tempos contemporâneos. Ser jovem pós-moderno é viver o dia de hoje, acreditar que o futuro será melhor e não ter tempo para pensar no passado. Ser jovem pós moderno é abdicar para se ganhar, é lutar para não cair, é uma luta pela vida. Os processos que poderão levar este jovem a colocar uma mudança na divisão de riquizas só poderá ser posto quando estudarmos o potencial deste jovem angustiado, solitário e pregador da liberdade individual.

Como organizar a sociedade para mudança?


No bojo de uma sociedade metropolitana entram em jogos varias forças, que anteriormente em formas sociais menores, constituiam uma "força coletiva única". O surgimento de sociedades de massa, ao mesmo tempo que cria variadas opções de atuação conforme nosso desejo individual, também criam divisão. Há algum sentimento de solidão pior que estar em meio à uma multidão de desconhecidos?

Há filósofos em todos os cantos pregadores da liberdade individual conquistada a partir da livre consciência e do livre desejo. Porém nossa consciência está demasiadamente carregada com informações e nosso corpo já não responde como desejamos ao ritmo estressante da grande cidade. Nossos desejos ficam cada vez mais confusos entre satisfação de demandas e carências.

Há economistas que colocam no dinheiro a esperança, apesar desta esperança estar a alcance de muito poucos. Apesar dessa pequena possibilidade de chegar a tal "elite global", a própria população assume como pensamento hegemônico o desejo de estar lá.

Neste cenário, todos que querem uma mudança tomam um choque e se perguntam o que fazer. Tudo parece tender a se manter como está. O questionamento que pode ser feito é sobre o que mantém as coisas como estão e o que pode fazer a situação mudar em favor da politização, da participação do povo na política e da expulsão de "políticos profissionais" que só brincam de negócios com o dinheiro e o trabalho pago pelas classes menos favorecidas.

Não haverá salvação milagrosa em meio à este caos. O povo não assumirá a administração governamental de repente e o empresariado não irá deixar de querer tomar as decisões políticas sozinho. Logo, deve existir uma organização disposta a organizar os remanescentes e ainda lúcidos do papel das maiorias na sociedade; só assim pode haver uma virada. A classe que se configura no Brasil como dominante, o empresariado, esmaga as classes que são maioria as excluindo da participação política, fazendo da vida dos governados um jogo de negócios e de ideais consumistas. Pior do que isso: retiram os direitos trabalhistas, aumentam cada vez mais os impostos do trabalhador, juntando isso ao sucateamento do transporte público, da saúde e da educação.

Uma organização social dos trabalhadores como sindicatos, dos estudantes como os Centros Acadêmicos e etc, que encaram essa política como algo a ser combatido é a alternativa e o ponto de partida para uma virada neste contexto. Outra organização social mais ampla é responsável pela consolidação e articulação entre as mais variadas formas de manifestação da maioria - como os sindicatos -, esta organização é o Partido. Não há outro caminho. Quaisquer alternativas que podem surgir, só poderão surgir ao longo destas primeiras, visto que a experiência de militância, de articulação, de organização e mesmo de trabalho intelectual trará as bases concretas para a ação revolucionária.


domingo, 26 de agosto de 2012



CIDADÃO GLOBISTA

Os grandes meios de comunicação incita a sensação de pertencimento, de ser provido de um mundo onde que há alternativas de mudança; alternativas obscuras, sob forte névoa, é verdade. Falar que os meios de comunicação não t
ransmitem a verdade é em certo grau uma mentira, pois a verdade está na correspondência de nossos sentimentos, não na correspondência de ideais "nobres". Globo e afins são profissionais da verdade, em criar verdades e em manter verdades, verdades que criam dependência e que criam esperanças, estas em seguida que são alimentadas por telenovelas um tanto bonitas. É um ciclo de retroalimentação: falta de esperança, esperança, romance. Até onde isso vai chegar? O que a política machuca, a novela cura. O que a novela desperta, a política estraga.

Globo forma cada dia cidadãos mais apolitizados e mais esperançados. Esperança com o que? Com a honestidade e com a boa aparência humanista do grande capitalista explorador que ama sua família e quer o bem de todos enquanto explora cruelmente seus funcionários? Apolitizados pois os cidadãos globistas não atuam no âmbito do "Estado", da "cidade", mas no âmbito de seus sonhos e ideais. Sonhos e ideais individualistas, atrelados ao humanismo extremo. Os mais energéticos e sonhadores colocam isso em prática, aliando-se ao grande capital. Os menos energéticos levam sua vida e seus amores em seu meio privado familiar e amoroso. Os menos sonhadores e mais energéticos, pregam uma filosofia niilista onde tudo está perdido e onde "salve-se quem puder".

Os menos sonhadores e menos energéticos se deprimem, consomem drogas, entregam-se aos sintomas da vida cotidiana e esperam encontrar na cura de seus sintomas a solução de seus problemas e dos problemas dos outros. É a tendência da vida cotidiana: menos energia e menos sonhos. Mas há de se rumar contra a maré? Se sim, para onde iremos? Se não, onde agir? Não responder é entrar num pântano movediço ao entrar na meia idade, é se tornar um grande salão vazio ao envelhecer.

sábado, 7 de julho de 2012

Diferenças e semelhanças entre um Partido Revolucionário e uma Religião

         Segundo Sigmund Freud todos nós pagamos um preço para garantir nossa entrada na civilização, e esta entrada é forma para nos reconhecermos enquanto organismo humano, vivo, existente, consciente. O preço por entrarmos neste mundo caótico não é barato: angústia, sofrimento, desamparo. Como nos proteger diante destas ameaças? O advento destes sentimentos em nossos corpos são vivenciados por nós como uma voz que quase nos puxa para fora da civilização, que a faz parecer ineficiente, despreparada.
       
          Diante disso temos duas opções principais de escolhas radicais. "Radical" ao que me refiro aqui é qualquer escolha, como na gênese da palavra, que se refira à um enraizamento(raiz) de objetivos e ações, criando-se então uma teoria de prática, estudo e ação. A sociedade pós-moderna nos fornece uma gama de possibilidades de não nos radicalizarmos, de tentarmos nos manter em pé em um ambiente fluido. Atualmente pagamos o preço de a todo momento poder ser "deixado para trás" de nos tornarmos "atrasados". Para que este sentimento não ocorra e não mergulhemos em desamparo, não podemos ficar parados, temos que nos renovar e atualizar o tempo todo. Caso algo dê errado(angústia/desamparo/sofrimento) temos objetos de consumos prontos para aplacar a angústia momentaneamente. E mais, para não criarmos vínculos afetivos que levem à "radicalismos", nos prevenimos também usando pessoas dentro da lógica de objetos de consumo.

          Temos então aqui três perspectivas básicas: Religião, Partido, Sociedades de Consumo. Neste texto irei abordar apenas as perspectivas "Religião" e "Partido", porém é dificílimo falar destas duas sem fazer ligações com este terceiro, atual saída prioritária da maioria do mundo ocidental. Começarei falando da Religião. Nela temos a oportunidade de viver um "sentimento oceânico", onde nele nos sentimos integrados à um "todo", que aqui chamarei de "Deus". Este todo faz nos sentirmos fortes, unidos, presentes, ativos e acima de tudo, vivos. Os cultos religiosos vem aí para reforçar a importância deste sentimento na vida das pessoas e como ele trás vitórias, milagres, sucessos e conquistas. Não podemos negar que muitos méritos conquistados por membros de grupos religiosos são atribuídos às suas conquistas com o "sentimento oceânico", que os dá a possibilidade de continuar lutando sem cair em desamparo. Devemos o mérito à religião pelo andamento da vida de milhões de pessoas. A religião então, visando aplacar o desamparo e a angústia, utiliza as Sociedades de Consumo para garantir o "sentimento oceânico" e a vitória individual. A prática de ações concretas religiosas nas Sociedades de Consumo vão da doutrinação, onde levam a possibilidade de sentir o sentimento oceânico, à caridade ao próximo desamparado. Caridade que hoje em dia, torna-se cada vez mais um luxo dos que alcançaram o "sucesso". Com isso vemos um sistema de eterna retroalimentação ideológica, onde as ações levadas em vida apontam para o único caminho: vida divina. Não entrarei em aspectos da vida divina até porque não tenho domínio sobre o assunto, mas os senhores devem entender sobre o que estou falando.

          Comumente vejo algumas semelhanças entre essa denominação religiosa que expus e  um Partido Comunista revolucionário. Um Partido Comunista revolucionário faz do mundo um campo de prática para a mudança social, para a criação de uma sociedade sem exploração do homem pelo homem. E como fazer isso? Além de conseguir atingir um objetivo também é importante pensarmos como o homem irá se relacionar entre ele, afinal, a exploração é um modo de interação e algo deve entrar nesse lugar. O Partido propõe a teoria de Marx e Engels com a "dialética". A dialética é uma proposta interacional onde o embate de idéias leva a criação de um novo significado, este que é concreto e leva à transformações práticas no mundo. A angústia, o desamparo e o sofrimento para um Partido não é algo que deve ser solucionado, mas algo que deve servir como propulsor à democracia, à participação popular nos processos que envolvem uma civilização. Uma civilização produz, uma civilização consome, e uma civilização se relaciona entre seus habitantes. A Religião detém de documentos bíblicos que exemplificam e esclarecem alguns pontos sobre a "vida divina" e a "vida terrena", já o Partido não detém deste tipo de documento, então, não que o Partido ignore a vida divina, mas simplesmente escolhe trabalhar o "preço pago para entrarmos na civilização" de outra maneira; na prática, na dialética, na participação política de todos os cidadãos. Para o Partido, então, a Religião é uma forma de aplacar a angústia de se viver em uma civilização, entregando às classes dominantes o controle de toda vida social/política, claro, a preço da exploração do homem pelo homem.

         Para chegarmos à uma sociedade onde a dialética possa servir como base das relações humanas, não a ideologia e o entreguismo diante dos problemas civilizatórios, teremos que trabalhar com os pés no chão onde vivemos, que é a Sociedade de Consumo. Não iremos ser perfeitos como os Deuses, tão pouco iremos nos deixar morrer na cruz para sermos idolatrados e seguidos em seguida. O Partido é a possibilidade prática de mudança social, da emancipação humana e da construção da civilização pela maioria. O Partido, dentro de nossa Sociedade de Consumo, é a única oportunidade prática em ação organizada para a construção de um novo tipo de sociedade, entre erros e acertos, entre amparos e desamparos.