As crianças de hoje são as mais afetadas certamente por estas novas tecnologias. Antigamente as máquinas facilmente eram reconhecidas como instrumentos sem emoção, apenas dotadas de razão, hardwares e programas pré-estabelecidos, enquanto o homem era o ser além de racional e emocional. Hoje em dia começa a ficar mais difícil fazer uma diferenciação tão clara. Programas de computadores conversam conosco, jogos leem nossas expressões faciais/ondas cerebrais e robôs respondem aos estímulos de maneiras tão variadas que por alguns momentos temos a sensação de que estão realmente vivos. Antigamente era fácil para uma criança desmontar um brinquedo ou aparelho mecânico e entender seu funcionamento, era uma época onde a tecnologia atuava de forma transparente. Hoje vivemos uma época opaca, onde mecanismos eletrônicos são de difícil entendimento e temos de optar por escolher ou não a tecnologia. Independente de entendê-los, os aparelhos, brinquedos e utensílios eletrônicos são muito mais próximos de um ser vivo do que um aparelho puramente mecânico.
A possibilidade de simplesmente fazer o uso da tecnologia sem propriamente entender ou ver claramente a diferença entre máquinas e seres humanos possibilita o surgimento de uma nova gama de relações entre homem e máquinas. Agora as máquinas detém de algum estatuto de subjetividade, de emoção e de razão. Não entendemos exatamente como ela funciona mas sabemos que funciona e que pode interagir conosco. Mas como decidimos comprar estas máquinas? Em algumas países como Japão, Canada, Indonésia, robôs são muito utilizados.
Exemplo:
Mas quando se oferece estas máquinas no mercado, qual a intenção que está por trás deste fornecimento e o que fez com que o produto fosse parar no mercado? Eu não sou economista então não vou poder falar com muita propriedade sobre o assunto, porém para um produto desse ser lançado, ele precisa entrar dentro de uma lógica de mercado. Provavelmente ele recebeu muitos investimentos para ser produzido e agora necessitará de um grande aparato publicitário para ser vendido em massa. Um produto vendido no sistema capitalista pressupõe a venda e fabricação em massa deste - ele precisa ser lucrativo - , logo, é necessário assegurar que as vendas serão construídas por um aparato publicitário que despertará o desejo nos consumidores de adquirir o produto. Além disso, é necessário acompanhar o processo de vendas e se o produto passar a diminuir seu número de vendas a ponto de atrapalhar no recebimento dos lucros("atrapalhar" este que é de acordo com as intenções do desenvolvedor/empresa) será então lançado uma segunda versão ou o produto será abandonado pela empresa fabricante.
Quanto aos consumidores, vemos que este é um dos elos mais chamativos dentro do sistema tecnologia-desenvolvimento-consumidor. Como atingir o público desejado e como lucrar com ele? Antes de se lançar um produto no mercado alguma avaliação foi feita para verificar se há algum tipo de demanda para o produto. Esta avaliação geralmente é feita por Psicólogos Sociais, que com seus estudos em Psicologia e em Pesquisa saberão a melhor maneira de avaliar o quanto o mercado consumidor está aberto para o recebimento de um novo produto. Só depois desta etapa o produto de uma empresa que "não joga para perder" começa a ser desenvolvido. Depois do desenvolvimento e produção do produto temos que fazer as pessoas olharem para ele e quererem comprar, aí que entra o Marketing, também altamente permeado pelos conhecimentos psicológicos. Para a Psicanálise, todo desejo de um ser humano, é o desejo que foi concebido em algum momento em outra pessoa. Ou seja, antes mesmo de sabermos que desejamos algo, alguém nos disse que é possível desejar tal coisa e que tal coisa é boa e satisfatória. Após sabermos que é possível desejar um produto e que tal desejo é permitido na sociedade, temos a possibilidade de escolher, ou não, o objeto e demandá-lo. Em um mundo em que a todo momento nos fornece produtos industrializados como possibilidades de satisfazermos nossos desejos, fica complicado saber de onde mesmo veio o desejo e qual a intenção dele ter sido criado em nós. Para isso, claro, precisamos acreditar que todo desejo é um desejo de um outro, além do mais, todo desejo é um desejo de um outro e tem alguma intenção com sua satisfação. Quado desejamos algo não é porque simplesmente disseram-nos que isso é bom desejar. Se escolhemos comprar tal produto é devido a alguma coisa que ele nos fornece com a função de diminuir a angustia e nos confortar, de acordo com nossa história pessoal.
As novas tecnologias em inteligência artificial suprem uma demanda da pós-modernidade, que a demanda de não nos prendermos a relações por muito tempo, em nos mantermos em terrenos flexíveis a mudanças. Não queremos nos prender em relacionamentos. E muito mais fácil comprar o amor, comprar a paz, comprar a companhia, comprar o sexo, e em algum momento que nos for cômodo, descartar e escolher outra coisa. Há algo mais complicado do que nos relacionarmos com outros seres humanos?
Nosso relacionamento com outros seres humanos são cada vez mais permeados pelo desejo do consumo, do lucro e do descartável. Apegar-se é desnecessário em um meio que sempre fornece um novo produto que aplaca o desejo. Inteligências artificiais moldadas a nosso próprio querer nos fornecem a possibilidade de relacionamento com seres inteligentes que vão nos incomodar até o limite que queremos, pois hoje em dia ainda é mais permitido descartar uma máquina com IA do que um ser humano.
E o que é permitido desejar? Lucrar. E como vamos lucrar? Criando o desejo por nossos produtos em outros seres humanos.
O desenvolvimento tecnológico e o bem-estar do homem no capitalismo são os últimos em grau de importância. O sistema capitalista então trás então atraso tecnológico e exploração do homem pelo homem(em todas as etapas da produção e comercialização).
Pedro Henrique Corrêa - Estudante de Psicologia da PUC-Rio