domingo, 26 de agosto de 2012



CIDADÃO GLOBISTA

Os grandes meios de comunicação incita a sensação de pertencimento, de ser provido de um mundo onde que há alternativas de mudança; alternativas obscuras, sob forte névoa, é verdade. Falar que os meios de comunicação não t
ransmitem a verdade é em certo grau uma mentira, pois a verdade está na correspondência de nossos sentimentos, não na correspondência de ideais "nobres". Globo e afins são profissionais da verdade, em criar verdades e em manter verdades, verdades que criam dependência e que criam esperanças, estas em seguida que são alimentadas por telenovelas um tanto bonitas. É um ciclo de retroalimentação: falta de esperança, esperança, romance. Até onde isso vai chegar? O que a política machuca, a novela cura. O que a novela desperta, a política estraga.

Globo forma cada dia cidadãos mais apolitizados e mais esperançados. Esperança com o que? Com a honestidade e com a boa aparência humanista do grande capitalista explorador que ama sua família e quer o bem de todos enquanto explora cruelmente seus funcionários? Apolitizados pois os cidadãos globistas não atuam no âmbito do "Estado", da "cidade", mas no âmbito de seus sonhos e ideais. Sonhos e ideais individualistas, atrelados ao humanismo extremo. Os mais energéticos e sonhadores colocam isso em prática, aliando-se ao grande capital. Os menos energéticos levam sua vida e seus amores em seu meio privado familiar e amoroso. Os menos sonhadores e mais energéticos, pregam uma filosofia niilista onde tudo está perdido e onde "salve-se quem puder".

Os menos sonhadores e menos energéticos se deprimem, consomem drogas, entregam-se aos sintomas da vida cotidiana e esperam encontrar na cura de seus sintomas a solução de seus problemas e dos problemas dos outros. É a tendência da vida cotidiana: menos energia e menos sonhos. Mas há de se rumar contra a maré? Se sim, para onde iremos? Se não, onde agir? Não responder é entrar num pântano movediço ao entrar na meia idade, é se tornar um grande salão vazio ao envelhecer.

sábado, 7 de julho de 2012

Diferenças e semelhanças entre um Partido Revolucionário e uma Religião

         Segundo Sigmund Freud todos nós pagamos um preço para garantir nossa entrada na civilização, e esta entrada é forma para nos reconhecermos enquanto organismo humano, vivo, existente, consciente. O preço por entrarmos neste mundo caótico não é barato: angústia, sofrimento, desamparo. Como nos proteger diante destas ameaças? O advento destes sentimentos em nossos corpos são vivenciados por nós como uma voz que quase nos puxa para fora da civilização, que a faz parecer ineficiente, despreparada.
       
          Diante disso temos duas opções principais de escolhas radicais. "Radical" ao que me refiro aqui é qualquer escolha, como na gênese da palavra, que se refira à um enraizamento(raiz) de objetivos e ações, criando-se então uma teoria de prática, estudo e ação. A sociedade pós-moderna nos fornece uma gama de possibilidades de não nos radicalizarmos, de tentarmos nos manter em pé em um ambiente fluido. Atualmente pagamos o preço de a todo momento poder ser "deixado para trás" de nos tornarmos "atrasados". Para que este sentimento não ocorra e não mergulhemos em desamparo, não podemos ficar parados, temos que nos renovar e atualizar o tempo todo. Caso algo dê errado(angústia/desamparo/sofrimento) temos objetos de consumos prontos para aplacar a angústia momentaneamente. E mais, para não criarmos vínculos afetivos que levem à "radicalismos", nos prevenimos também usando pessoas dentro da lógica de objetos de consumo.

          Temos então aqui três perspectivas básicas: Religião, Partido, Sociedades de Consumo. Neste texto irei abordar apenas as perspectivas "Religião" e "Partido", porém é dificílimo falar destas duas sem fazer ligações com este terceiro, atual saída prioritária da maioria do mundo ocidental. Começarei falando da Religião. Nela temos a oportunidade de viver um "sentimento oceânico", onde nele nos sentimos integrados à um "todo", que aqui chamarei de "Deus". Este todo faz nos sentirmos fortes, unidos, presentes, ativos e acima de tudo, vivos. Os cultos religiosos vem aí para reforçar a importância deste sentimento na vida das pessoas e como ele trás vitórias, milagres, sucessos e conquistas. Não podemos negar que muitos méritos conquistados por membros de grupos religiosos são atribuídos às suas conquistas com o "sentimento oceânico", que os dá a possibilidade de continuar lutando sem cair em desamparo. Devemos o mérito à religião pelo andamento da vida de milhões de pessoas. A religião então, visando aplacar o desamparo e a angústia, utiliza as Sociedades de Consumo para garantir o "sentimento oceânico" e a vitória individual. A prática de ações concretas religiosas nas Sociedades de Consumo vão da doutrinação, onde levam a possibilidade de sentir o sentimento oceânico, à caridade ao próximo desamparado. Caridade que hoje em dia, torna-se cada vez mais um luxo dos que alcançaram o "sucesso". Com isso vemos um sistema de eterna retroalimentação ideológica, onde as ações levadas em vida apontam para o único caminho: vida divina. Não entrarei em aspectos da vida divina até porque não tenho domínio sobre o assunto, mas os senhores devem entender sobre o que estou falando.

          Comumente vejo algumas semelhanças entre essa denominação religiosa que expus e  um Partido Comunista revolucionário. Um Partido Comunista revolucionário faz do mundo um campo de prática para a mudança social, para a criação de uma sociedade sem exploração do homem pelo homem. E como fazer isso? Além de conseguir atingir um objetivo também é importante pensarmos como o homem irá se relacionar entre ele, afinal, a exploração é um modo de interação e algo deve entrar nesse lugar. O Partido propõe a teoria de Marx e Engels com a "dialética". A dialética é uma proposta interacional onde o embate de idéias leva a criação de um novo significado, este que é concreto e leva à transformações práticas no mundo. A angústia, o desamparo e o sofrimento para um Partido não é algo que deve ser solucionado, mas algo que deve servir como propulsor à democracia, à participação popular nos processos que envolvem uma civilização. Uma civilização produz, uma civilização consome, e uma civilização se relaciona entre seus habitantes. A Religião detém de documentos bíblicos que exemplificam e esclarecem alguns pontos sobre a "vida divina" e a "vida terrena", já o Partido não detém deste tipo de documento, então, não que o Partido ignore a vida divina, mas simplesmente escolhe trabalhar o "preço pago para entrarmos na civilização" de outra maneira; na prática, na dialética, na participação política de todos os cidadãos. Para o Partido, então, a Religião é uma forma de aplacar a angústia de se viver em uma civilização, entregando às classes dominantes o controle de toda vida social/política, claro, a preço da exploração do homem pelo homem.

         Para chegarmos à uma sociedade onde a dialética possa servir como base das relações humanas, não a ideologia e o entreguismo diante dos problemas civilizatórios, teremos que trabalhar com os pés no chão onde vivemos, que é a Sociedade de Consumo. Não iremos ser perfeitos como os Deuses, tão pouco iremos nos deixar morrer na cruz para sermos idolatrados e seguidos em seguida. O Partido é a possibilidade prática de mudança social, da emancipação humana e da construção da civilização pela maioria. O Partido, dentro de nossa Sociedade de Consumo, é a única oportunidade prática em ação organizada para a construção de um novo tipo de sociedade, entre erros e acertos, entre amparos e desamparos.

       

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Novos humanos, tecnologia e seu desenvolvimento dentro do mercado.

          Não é de hoje que ouvimos falar de um novo homem que surge com o advento das tecnologias, principalmente da IA(Inteligência Artificial). Quero falar um pouco das possibilidades de inserção do homem nesse novo mundo em que a máquina passa a fazer parte.

          As crianças de hoje são as mais afetadas certamente por estas novas tecnologias. Antigamente as máquinas facilmente eram reconhecidas como instrumentos sem emoção, apenas dotadas de razão, hardwares e programas pré-estabelecidos, enquanto o homem era o ser além de racional e emocional. Hoje em dia começa a ficar mais difícil fazer uma diferenciação tão clara. Programas de computadores conversam conosco, jogos leem nossas expressões faciais/ondas cerebrais e robôs respondem aos estímulos de maneiras tão variadas que por alguns momentos temos a sensação de que estão realmente vivos. Antigamente era fácil para uma criança desmontar um brinquedo ou aparelho mecânico e entender seu funcionamento, era uma época onde a tecnologia atuava de forma transparente. Hoje vivemos uma época opaca, onde mecanismos eletrônicos são de difícil entendimento e temos de optar por escolher ou não a tecnologia. Independente de entendê-los, os aparelhos, brinquedos e utensílios eletrônicos são muito mais próximos de um ser vivo do que um aparelho puramente mecânico.

          A possibilidade de simplesmente fazer o uso da tecnologia sem propriamente entender ou ver claramente a diferença entre máquinas e seres humanos possibilita o surgimento de uma nova gama de relações entre homem e máquinas. Agora as máquinas detém de algum estatuto de subjetividade, de emoção e de razão. Não entendemos exatamente como ela funciona mas sabemos que funciona e que pode interagir conosco. Mas como decidimos comprar estas máquinas? Em algumas países como Japão, Canada, Indonésia, robôs são muito utilizados.

Exemplo:



          Mas quando se oferece estas máquinas no mercado, qual a intenção que está por trás deste fornecimento e o que fez com que o produto fosse parar no mercado? Eu não sou economista então não vou poder falar com muita propriedade sobre o assunto, porém para um produto desse ser lançado, ele precisa entrar dentro de uma lógica de mercado. Provavelmente ele recebeu muitos investimentos para ser produzido e agora necessitará de um grande aparato publicitário para ser vendido em massa. Um produto vendido no sistema capitalista pressupõe a venda e fabricação em massa deste - ele precisa ser lucrativo - , logo, é necessário assegurar que as vendas serão construídas por um aparato publicitário que despertará o desejo nos consumidores de adquirir o produto. Além disso, é necessário acompanhar o processo de vendas e se o produto passar a diminuir seu número de vendas a ponto de atrapalhar no recebimento dos lucros("atrapalhar" este que é de acordo com as intenções do desenvolvedor/empresa) será então lançado uma segunda versão ou o produto será abandonado pela empresa fabricante.

          O que quero dizer aqui é que a criatividade, bem estar do homem e utilidade de um produto dentro do sistema capitalista, se não um ponto de partida, é algo pouco considerado. Fatores como lucro, mercado, vendas e produção ficam acima de qualquer intenção de melhoria de qualidade de vida. Os produtores, desenvolvedores, engenheiros e demais profissionais que ajudaram a desenvolver tal produto, são, então, explorados por um outro que deseja lucrar com tal conhecimento científico. Aqui a questão não é a dos altos ganhos financeiros do desenvolvedor ou o quanto ele está feliz em fazer este trabalho, mas a questão é que um ser humano é explorado por outro para trazer lucro em cima do fornecimento de produtos em massa para um mercado que será explorado via marketing. Não vamos duvidar que para criar este pequenino dinossauro foi necessário muita dedicação, vontade e esforço. É inegável a quantidade de esforços técnicos para a criação disto que podemos chamar até de "obra prima". Também não podemos negar a felicidade que este produto pode trazer aos consumidores. Mas reforço que minha intenção com esse post é outra, é de ver os antecedentes da produção e seus objetivos maiores, que englobam na maioria das vezes os fatores acima citados. Afinal, de que adianta você ter uma boa ideia, um bom produto, uma boa inteligência artificial, e isso não ter inserção no mercado? O desenvolvedor, o criativo, fica na mão dos líderes de mercado, ou seja, das empresas, que então optarão por diferentes estratégias onde a diferença entre uma e outra é a extensão da coleira colocada em cada desenvolvedor.

          Quanto aos consumidores, vemos que este é um dos elos mais chamativos dentro do sistema tecnologia-desenvolvimento-consumidor. Como atingir o público desejado e como lucrar com ele? Antes de se lançar um produto no mercado alguma avaliação foi feita para verificar se há algum tipo de demanda para o produto. Esta avaliação geralmente é feita por Psicólogos Sociais, que com seus estudos em Psicologia e em Pesquisa saberão a melhor maneira de avaliar o quanto o mercado consumidor está aberto para o recebimento de um novo produto. Só depois desta etapa o produto de uma empresa que "não joga para perder" começa a ser desenvolvido. Depois do desenvolvimento e produção do produto temos que fazer as pessoas olharem para ele e quererem comprar, aí que entra o Marketing, também altamente permeado pelos conhecimentos psicológicos. Para a Psicanálise, todo desejo de um ser humano, é o desejo que foi concebido em algum momento em outra pessoa. Ou seja, antes mesmo de sabermos que desejamos algo, alguém nos disse que é possível desejar tal coisa e que tal coisa é boa e satisfatória. Após sabermos que é possível desejar um produto e que tal desejo é permitido na sociedade, temos a possibilidade de escolher, ou não, o objeto e demandá-lo. Em um mundo em que a todo momento nos fornece produtos industrializados como possibilidades de satisfazermos nossos desejos, fica complicado saber de onde mesmo veio o desejo e qual a intenção dele ter sido criado em nós. Para isso, claro, precisamos acreditar que todo desejo é um desejo de um outro, além do mais, todo desejo é um desejo de um outro e tem alguma intenção com sua satisfação. Quado desejamos algo não é porque simplesmente disseram-nos que isso é bom desejar. Se escolhemos comprar tal produto é devido a alguma coisa que ele nos fornece com a função de diminuir a angustia e nos confortar, de acordo com nossa história pessoal.

          As novas tecnologias em inteligência artificial suprem uma demanda da pós-modernidade, que a demanda de não nos prendermos a relações por muito tempo, em nos mantermos em terrenos flexíveis a mudanças. Não queremos nos prender em relacionamentos. E muito mais fácil comprar o amor, comprar a paz, comprar a companhia, comprar o sexo, e em algum momento que nos for cômodo, descartar e escolher outra coisa. Há algo mais complicado do que nos relacionarmos com outros seres humanos?

         Nosso relacionamento com outros seres humanos são cada vez mais permeados pelo desejo do consumo, do lucro e do descartável. Apegar-se é desnecessário em um meio que sempre fornece um novo produto que aplaca o desejo. Inteligências artificiais moldadas a nosso próprio querer nos fornecem a possibilidade de relacionamento com seres inteligentes que vão nos incomodar até o limite que queremos, pois hoje em dia ainda é mais permitido descartar uma máquina com IA do que um ser humano.

         E o que é permitido desejar? Lucrar. E como vamos lucrar? Criando o desejo por nossos produtos em outros seres humanos.

         O desenvolvimento tecnológico e o bem-estar do homem no capitalismo são os últimos em grau de importância. O sistema capitalista então trás então atraso tecnológico e exploração do homem pelo homem(em todas as etapas da produção e comercialização).


Pedro Henrique Corrêa - Estudante de Psicologia da PUC-Rio

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O recuo e a derrota nas práticas de grupo

          Ao longo de alguns períodos fui percebendo algumas derrotas em lutas políticas ou em acontecimentos pessoais tanto meus quanto coletivos. A questão que tentarei abordar toca tanto no coletivo quanto no individual, pois falarei do aproveitamento da derrota e em sua aceitação como medida estratégica para uma vitória posterior.

         Sempre ao longo de uma jornada onde criamos coletivos e debatemos temas que futuramente gerarão práticas políticas, esperamos que estas se concretizem, pois foram fruto de muito trabalho. Como vivemos em um meio onde não há um único grupo, durante o processo de prática temos que replanejar as ações como uma forma de adaptação à um outro contexto, exterior ao nosso grupo. No contexto de um partido ou de um grupo revolucionário, por exemplo, supõe-se a criação de ações em meios não-revolucionários ou até mesmo reacionários. A impossibilidade de prever o desdobramento de nossas ações nos coloca diante de uma política inevitável: O constante ajuste estratégico de ações. E é nessa questão que quero colocar meu posicionamento.


"0 czarismo triunfou. Foram esmagados todos os partidos revolucionários e de posição. Desânimo, desmoralização, cisões, dispersão, deserções, pornografia em vez de política. Fortalecimento da tendência para o idealismo filosófico, misticismo como disfarce de um estado de espírito contra-revolucionário. Todavia, ao mesmo tempo, justamente essa grande derrota dá aos partidos revolucionários e à classe revolucionária uma verdadeira lição extremamente proveitosa, uma lição de dialética histórica, de compreensão, de destreza e arte na direção da luta política. Os amigos se manifestam na desgraça. Os exércitos derrotados passam por uma boa escola. " (Lénine, V. I.; 1920, cap. III).

         O contexto histórico desta citação está entre 1907 e 1910 na derrota do proletário em forma do partido bolchevique durante o processo revolucionário russo. Durante a prática de um grupo, no caso os bolcheviques, houve um impasse histórico inevitável, a vitória da contra-revolução dos Czares. Este movimento de derrota levou à um recuo estratégico, que caso não fosse feito haveria um preço de vidas grande a se pagar. Quando o camarada Lenin então nos coloca diante desse impasse na revolução, ele também nos mostra como os impasses históricos transformam a revolução em si e como os próprios impasses e recuos dão a chance de aprendizado à classe revolucionária, que não teria esta chance de aprimoramento sem este evento.

          Contraponho então a lógica defendida por muitos de "um avanço constante e gradual" dentro da sociedade civíl, prática essa que é, e foi, impossível de ser realizada visto aos incontroláveis eventos decorrentes de práticas revolucionárias. As vezes o caminho mais curto entre um ponto e outro não é uma reta, principalmente quando não se é possível traçar uma reta. Em caso de impossibilidade de continuação da ação o desespero e o ataque desmedido, desorganizado aos grupos opositores, se transformarão em grande desastre para a classe trabalhadora, apenas divindindo-a em cada vez mais grupos, tornando a força revolucionária dispersa.

"E se os bolcheviques conseguiram tal resultado foi exclusivamente porque desmascararam impiedosamente e expulsaram os revolucionários de boca, obstinados em não compreender que é necessário recuar, que é preciso saber recuar, que é obrigatório aprender a atuar legalmente nos mais reacionários parlamentos e nas organizações sindicais, cooperativas, nas organizações de socorros mútuos e outras semelhantes, por mais reacionárias que sejam."(Lénine, V. I.; 1920, cap. III).

          Então para não haver repartição ideológica é preciso saber recuar mas sem entregar-se aos argumentos de direita e da aliança de correntes sociais-democratas com a burguesia para dar prosseguimento aos trabalhos revolucionários. Não preciso nem me alongar na discussão de alianças com a burguesia pois não há possibilidade de avanço revolucionário com essa aliança assim como não há como criar uma sociedade comunista sem a luta de clases. Qualquer negociação com meios burgueses apenas revela o entreguismo e peleguismo de um órgão que se diz estar agindo em nome de uma classe, mas que age em nome da outra.

         Por mais que haja necessidade de recuo, não é inteligente uma aliança com setores burgueses pois as duas classes, proletariado e burguesia, apresentam interesses extremamente diferentes. Mesmo a classe trabalhadora tendo como objetivo proteger posição no avanço dos objetivos de grupos revolucionários, esta posição conquistada por alianças com grupos burgueses ou pequeno-burgueses apenas entrega e imobiliza futuros trabalhos.

          Há então uma necessidade de recuo, porém um recuo coordenado entre os companheiros trabalhadores. Não deve haver alianças, nem insistência em estratégias perdidas. O recuo deve ser considerado como uma importante estratégia no meio revolucionário pois possibilita uma reestruturação melhor adaptada à um contexto que em algum momento se tornou desfavorável. Não há necessidade de entrar em conflitos considerados perdidos ou bater cabeças com camaradas, falsos camaradas muitas vezes, de esquerda que tão pouco ameaçam nosso local de trabalho, ou seja, nossos grupos revolucionários. Nosso objetivo é unificar a luta dos trabalhadores, mas enquanto alguns não podem compreender a importância de tal feito para a revolução e pra emancipação humana, não há como catequizar, educar e escravizar para atingir nossos objetivos, pois invariavelmente estaríamos caindo no mesmo contexto capitalista na formação de mentalidades alienadas.

"Os partidos revolucionários têm de completar sua instrução. Aprenderam a desencadear a ofensiva. Agora têm que compreender que essa ciência deve ser completada pela de saber recuar ordenadamente" (Lénine, V. I.; 1920, cap. III).

         Todo recuo ou derrota mostra uma vitória posterior atuando de forma invisível. Cito como exemplo a "Comuna de París", que foi uma grande escola de pensamento para posteriores revoluções, no desenvolvimento da teoria e da prática revolucionária. Será que haveria a Revolução Russa sem o aprendizado sobre a Comuna?  Não precisamos nos apegar à grandes fatos para elucidar o bom uso de uma derrota política ou de um recuo. Podemos colocar em prática este pensamento cotidianamente em nossas lutas como classe trabalhadora. Será que uma perda de direito do trabalhador é unicamente uma derrota? Será que uma restrição na liberdade é necessariamente uma derrota? Temos que adaptar sempre nossas ações ao contexto e mantê-las em constante atualização para não cairmos em formulações esteriotipadas que mais atrapalham o processo revolucionário que ajudam. A derrota é apenas um pretexto para uma ação.

          Quero ir mais além, proponho a aceitação da derrota como um estudo necessário para a revolução. A verdadeira ascenção da classe trabalhadora não se derá por uma vitória constante, mas sim por um conjunto de vitórias e derrotas que juntas emanciparão o gênero humano de toda exploração criada por outros homens. Cada vez que sofremos por muito tempo por alguma derrota ou gastamos energias desnecessariamente em um campo que não trará retornos, estamos adiando a realização do socialismo.


Bibliografia:
Lénine, Vladimir Ilitch (1920). "Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo". Brasil: 5ª Edição Global Editora

Pedro Henrique Corrêa - Estudante de Psicologia da PUC-Rio