terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Juventude na pós-modernidade


Pós-modernidade é o esquema de vivência, circuito de formas de relação, status social momentâneo dos tempos em que vivemos. Na contemporaneidade há muito se debatido sobre uma nova maneira de chamar os tempos atuais, encarados já como a ultrapassagem da "modernidade". A modernidade pode ser caracterizada pela cultura monetária, divisão do trabalho, objetivação das relações e subjetivação como criação de uma individualidade, do ser "indiviso", "indivíduo". A modernidade possibilitou pela cultura monetária a possibilidade de ultrapassarmos a simples troca de produtos de valor intercambiável pela livre escolha de compra e venda. O dinheiro então, trouxe o conceito de individualidade, de subjetividade e, propriamente, de liberdade. O ser moderno então, principalmente o morador da cidade, do grande centro urbano, detém em suas mãos o instrumento que o liberta e ao mesmo tempo o aprisiona, visto que tudo e todos agora são quantitativizados, ou seja, tudo pode ser comprado e todos os produtos e relações passaram a ter valor financeiro, logo, comparáveis. O dinheiro passa a ser um fim, não mais um meio, e a cidade com seus milhões de habitantes invade nossa individualidade de maneira tão agressiva que seus habitantes passam a desenvolver defesas, como a própria "atitude blasé" e o cinismo para os outros cidadãos.

Este caráter da modernidade é visto na própria "pós-modernidade". Não é por menos que um novo nome não foi eleito, apenas uma junção com "pós". E muita coisa pode ser vista. Porém em tempos contemporâneos, esta unidade criada pela economia monetária e a livre possibilidade de escolha a partir do poder financeiro torna-se cada vez mais esfacelado, dividido, cindido. As agressões da cidade começam a marcar nossa subjetividade de modo que perdemos nosso sentimento até mesmo de liberdade, visto que há agora tantos opções que fica difícil até escolhermos. Os mais variados produtos, para as mais variadas rendas, as mais variadas ideologias para os mais variados gostos políticos. A liberdade de escolha então dorme em um berço da ausência de conflito, pois como há tantas opções, não há necessidade de eu entrar em embates individuais a cerca de determinado objetivo. O jovem pós moderno então não tem mais uma estrutura de vida sólida, não detém de um emprego que o fará viver tranquilamente e planejadamente pelo resto da vida, não acredita mais em ideologia futura. Tudo é muito incerto, tudo pode mudar de hoje para amanhã. A pós modernidade alimenta um sentimento de sempre estar "á deriva". É como se todos habitássemos um trem e o que mais tememos e sermos jogados para fora dele em movimento, este que é muito rápido para podermos explicar com clareza seu movimento. Nosso único desejo então é não cair do trém, é simplesmente se manter em movimento.

Uso a palavra "nosso" porque acredito que não há forma de passar pela "pós modernidade" sem estar marcado por ela. Basta ler qualquer livro ou artigo que aborda a contemporaneidade que vamos nos identificar com grandes questões. Logo, este período que vivemos não deve ser interpretado como um período a ser combatido, mas um período a ser aproveitado. Cada processo histórico marca a subjetividade e o entendimento da história do ser humano de uma maneira diferente do anterior, isso é natural. Não há movimento contrário ao processo, apenas um ciclo que se renova, se transforma e se molda. Há de se tomar cuidado para não confundir luta de classes com luta de tempos. É perfeitamente possível haver luta de classes nas mais variadas épocas, afinal a própria história é uma história de luta de classes. Mas não é possível combater épocas com objetivo de fortalecer lutas de classes.

Vemos que o caráter multitarefa e muitfuncional do jovem contemporâneo o afasta das lutas políticas. Ninguém quer cair desse trem, isso seria ameaçador demais: ficar sem emprego, sem moradia, sem desenvolvimento intelectual, sem família. As condições estão dadas para uma vida habituada a se manter o que se têm. A questão não mais é o que se terá no futuro, mas como construir o presente para o futuro se concretizar. Foi feito um corte na linha do tempo e o presente está cada vez mais espaçado, espremendo futuro e passado. E essa escolha presente mesmo assim não é segura, tirando para os seletos habitantes das aldeias e condomínios da elite que conseguem se deslocar facilmente por este terreno incerto, vantagem dada pelo domínio e controle da economia monetária - vantagem de poucos - . Os que não detém destes privilégios tentam conseguí-los, são vitimas e agentes de uma própria época. A consciência estética, avaliativa e crítica do momento atual é trocada por uma redenção, esperança de salvação colocada no jovem pela mesma economia monetária que, ao contrário da época moderna, o restringe a liberdade no momento em que cria nele o sentimento de estar "á deriva". Uma rosa pode parecer bela, um buquê mais ainda, um mar de rosas já se torna confuso à visão, e muito assustador. Talvez estejamos vivendo um mar de rosas, para todas as classes. O jovem pós-moderno se insere na economia monetária por sua própria libertação, por mais que esta implique em fazer parte de um grupo onde poucos terão acesso. Mas quando não há opção, quando não há alternativa, este multifacetamento da personalidade não o guia para construção de um novo projeto de sociedade, mas para a corroboração e a participação dos ciclos dominantes que o salvariam da barbárie. É como conseguir a "carta de nobreza". Fazer parte da elite global é ser o nobre dos tempos contemporâneos. Ser jovem pós-moderno é viver o dia de hoje, acreditar que o futuro será melhor e não ter tempo para pensar no passado. Ser jovem pós moderno é abdicar para se ganhar, é lutar para não cair, é uma luta pela vida. Os processos que poderão levar este jovem a colocar uma mudança na divisão de riquizas só poderá ser posto quando estudarmos o potencial deste jovem angustiado, solitário e pregador da liberdade individual.

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