terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Uma breve causa da favelização


Com o passar do tempo vamos vendo o crescimento cada vez maior em número de pessoas que moram em submoradias, "sub" pois não podem ser consideradas moradiais locais onde fica comprometido a própria manutenção e reprodução da vida humana. Falta de saneamento básico, coleta de lixo deficiente, cômodos divididos por inúmeras pessoas. Mas não é contraditório? O avanço da razão, da ciência e das sociedades ao invés de trazer desenvolvimento e conforto para a população está trazendo o avesso para grande parte, a favelização.

"Em vez de cidades de ferro e vidro, sonhadas pelos arquitetos, o mundo está, na verdade, sendo dominado por favelas." Ermina Maricato

Segundo o Banco Mundial na década de 1990 a pobreza se tornaria no próximo século "o problema mais importante e politicamente explosivo do próximo século"[1]. No Brasil, 30% da população brasileira atualmente vive em favelas. Em algúns países o índice de favelização chega a ficar por volta de 90% como Afeganistão e Nigéria. Em países desenvolvidos como EUA e países nórdicos este índice cai para 6%[2].

Nestes dados é importante ressaltar a que custas os países desenvolvidos conseguiram seus baixos índices de favelização. Ao longo do século XX e dos períodos pós guerras, a economia estadunidense teve grande possibilidade de prosseguir com seu avanço na acumulação de capitais na reconstrução européia. Aliado à maquinaria militar de produção com guerras constantes, e ao reposicionamento de suas principais industrias empregadoras de mão de obra barata em países da Ásia, europa oriental e China, criou-se nos EUA uma terra onde os mais próximos do topo do comando empresarial moderno pode administrar suas políticas imperialistas[3]. Nos países nórdicos a indústria exploratória de mão de obra exerce a mesma função.

Países e governos de países asiáticos querendo alavancar suas economias(e contraditoriamente até para combater as favelas) recentemente vem empregando poíticas de incentivos fiscais para implatações de empresas estrangeiras. Porém com o alto índice de exploração permitida pela ausência de organização e direito trabalhista, repressão às organizações de trabalhadores e a aliança entre governo e grandes multinacionais, vem-se dando uma festa, uma verdadeira orgia, onde o grande banquete de capital e de mulheres dos próprios trabalhadores que não conseguem vender sua mão de obra, são consumidos pela elite dominante empresarial. O verdadeiro constraste se coloca: Alguns que não produzem a riqueza, mas que gozam dela, vivem em condomínios fechados e protegidos por vigilantes armados e câmeras de segurança. Estes conseguem ter acesso aos altos níveis de desenvolvimento humano e conforto. Para eles o caos urbano é apenas um jogo de investimentos onde o importante é o lucro. Já para a maioria o que resta é viver em submoradias e trabalhar arduamente, pois a única coisa que resta é a venda de sua própria força de trabalho. Uma força de trabalho desqualificada na maioria das vezes ou qualificada em nosso modelo de educação atual, onde todo conhecimento é gerado apenas para se fazer intensificar as diferenças sociais. Estudantes de Arquitetura estudam a construção de super Shoppings Centers de luxo enquanto a maioria da população não encontra solução para o problema da moradia. Estudantes de Nutrição estudam a pigmentação do vinho, enquanto mal-nutridas, crianças em todo o mundo vivem não se sabe como passando longos períodos de fome e sofrimento.

A favelização é consequência não só de "políticas governamentais erradas", mas é consequência, principalmente, dos grandes monopólios empresariais que espalham a miséria por onde implantam suas fábricas e geram riqueza para uma elite que mora em países "desenvolvidos" - se é que isso pode ser considerado desenvolvimento -. Os verdadeiros vagabundos, bandidos e traficantes na verdade moram em mansões protegidas dos "vagabundos, bandidos e traficantes" criados pelo próprio sistema que difundem - que também geram a si próprios da "hight society" -. Ao final desta generalização da degradação humana, as contradições afetam os dois lados(empresariado e trabalhadores) e a solução do problema da moradia não poderá ser dada enquanto não se haver superado a ordem econômica vigente e libertado ambos os lados - escolhendo-se um lado desta luta de classes -.




[1] Anqing Shi, "How Acess to Urban Portable Water and Sewerage Connections Affects Child Mortality", Finance, Development Research Group. jn.2000 p.14.
[2] Estudos de 2003 do UN-Habitat
[3] Imperialismo é uma forma de expansão empresarial onde empresários ao ver o mercado interno de seu próprio país saturado, ou vendo possibilidades econômicas no exterior, expandem e procuram novos mercados consumidores em outras localidades. Incentivados por políticas estatais e pela precarização de mão de obra dos países asiáticos, empresas principalmente estadunidenses aproveitam para fabricar a menor preço e expandir suas taxas de lucro e acumulação de capital nas mãos de poucos.

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