terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A família como degenerescência da emancipação humana


Este tema é um tanto delicado, principalmente pois quando falamos em "Família" em uma lista de prioridades que as pessoas comum têm em suas vidas, a maioria colocaria esta instituição no cume desta lista. Arrisco-me a dizer inclusive que "Família" ocupa na maioria das vezes o topo desta lista/ordem de prioridades de um ser humano. De cara encaramos um grupo que funda a inserção do ser humano no seu meio, que é o meio social, da linguagem. Desde os primeiros dias de vida o ser humano, que virá a ser um sujeito, mas que se coloca inicialmente como uma massa gelatinosa, este ser é um membro de uma família. Presente ou não, há uma bagagem histórica familiar e esta bagagem é a primeira que se coloca diante deste novo candidato à sujeito humano.

Existir como sujeito é diferente de existir como indivíduo ou como ser humano. O indivíduo, como ser indiviso, é a menor parte de uma gama de relações sociais onde a maior parte é a sociedade, por isso o nome "indivíduo", ou seja, o que não se pode dividir. O ser humano existe enquanto conceito e enquanto idéia. Ao nascer, é sugerida uma história e incutido neste novo ser humano uma história, um desejo de quem o concebeu. A existência como sujeito, aí, é a mais complexa de todas. O sujeito se coloca apenas quando esse ser humano concebido, desejado e planejado, passa a conceber, desejar e planejar. Existir como sujeito então é se colocar de maneira ativa nas mais variadas esferas das relações humanas, da menor, no campo do indivíduo, à maior, no campo social.

A família, como instituição formadora de seres humanos, coloca-se ao lado de inúmeros instituições como igreja, escola e exército. Porém, nenhuma destas instituições formam sujeitos. Os sujeitos se formam por um vínculo entre o ser humano instâncias sociais, ou seja, espaços de experiência huamana. Dentro destas instâncias circulam desejos e demandas das mais diversas. Ressaltarei uma força desejante muito presente atualmente como exemplo: a mídia, a indústria cultural. Essa instância social coloca seu aparato em favor de fazer do ser humano um ser sem sujeito, um ser submisso aos dizeres da tendência, da produção capitalista e do consumismo endêmico. Para a indústria cultural e o anunciante da grande imprensa, não interessa se o sujeito deseja isto ou aquilo, mas interessa como fazer despertar e criar o desejo para aquele produto. Logo não há possibilidade de interação, mas uma busca contínua da indústria cultural em criar novos nichos de mercado para seus produtos. E como age a família? Simples. A família é instituída como um conjunto de relações onde a geração passada deseja algo para a relação futura. Até aí tudo bem. Mas como garantir que este desejo familiar não seja um imposição assim como a própria industria cultural dos grandes filmes, propagandas e chamadas consumistas? Nisso não há garantia alguma. Ao contrário, há disgarantias.

Nos dias de hoje a família detém do poder da propriedade privada, ou melhor dizendo, do poder de escolha e de controle sob as instâncais educacionais de uma criança. Vocês iriam rebater esta minha afirmação dizendo que o ensino escolar é obrigatório nas grandes cidades, e sim, é verdade. Mas esta concessão não limita ao todo nem chega perto do que poderiamos imaginar como uma educação voltada para a emancipação. A propriedade privada garante que a família vai ser a responsável pela alimentação, moradia, educação e criação deste novo ser humano social. Não é por menos que por vezes, muitas vezes, culpamos a família pela "malcriação" de uma criança ou por respostas rudes e posicionamentos antiéticos na vida adulta. A família detém da maior parte da responsabilidade da criação deste ser humano.

Vejamos, se conseguistes me acompanhar até aqui, concluiremos que conseguir desenvolver a dinâmica do SUJEITO, ou seja, um ser humano desejante e ativo nas instâncias sociais, é muito difícil. É como se nossa televisão tivesse apenas um canal. Não é apenas pela falta de diversidade, isto é o menos importante, mas sim por estarmos a priori e até nossa "independência", lidando com forças de pessoas que na maior parte de nossas vidas tem grande influência sobre nossa subjetividade. Uma educação completa tem de colocar o ser humano em contato e em responsabilidade coletiva de criação. Sabemos que nossas famílias sofrem influências do contexto social, sabemos que nossas famílias sofrem influências da economia, sabemos que nossas famílias sofrem as mais diversas influências, mas mesmo assim ainda agregamos a responsabilidade maior pela criação de uma criança nas mãos dessa instituição chamada "Família". E mais, quando somos pais, fazemos de nossos filhos  propriedade exclusiva de criação no mesmo modelo em que tivemos a nossa própria criação. Essa reprodução não coloca em crítica o modelo que impede o embate dos desejos de um sujeito com diferentes intâncias sociais, mas apenas a reproduz, que quando muito criticamente, cria algo paradoxal e desamparador. Algo como: "Eu critico a extrema responsabilização e propriedade da família com as crianças, então, farei o inverso com meu filho.". Este "farei" já instala o desejo exclusivo. E digo novamente: até aí tudo bem. O problema é que o controle da família burguesa sobre a criação das crianças, quando este é esvaziado, não há outros espaços de ocupação para estas mesmas crianças. Então a criança é jogada num mundo de desamparo, onde a saída da principal instituição(Família) a insere num colapso social onde a falta de outras instâncias instala uma angústia inimaginável. Colocado como o "sujeito da pós-modernidade", este agora se agarra a qualquer coisa que parece minimamente sólido, como as grandes religiões extremistas, a dependência química ou os grandes mercados financeiros e o fetichismo pela mercadoria.

A saída para a família é dada pela própria família, que não prepara as bases sociais para uma criação inclusive, ampla e diversa de nossas crianças. Isso instala o desamparo e uma busca por vivências alternativas que o levem ao amparo. A família se desestrutura com boas intenções na pós-modernidade, mas não conseguirá fundar nem mudar a sociedade, mas apenas a reproduzir de forma diferenciada. Agora, com a família tendo a possibilidade de se mostrar ausente no sentido mais fraterno possível, o mercado entra com novas alternativas: drogas, remédios, religiões, dinheiro. E será que esta nova alternativa de ausência não pode ser mais um retorno ou tentativa de se estabelecer um novo controle? Esta é uma discussão que ficará mais adiante.


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